Debates entre candidatos constituem oportunidade para que eleitores os observem atuando sem o auxílio das propagandas, onde imagens exuberantes e falas decoradas deixam o processo político artificializado. No debate promovido pelo Sistema Jangadeiro de Comunicação na noite desta quinta-feira (19), o público pode acompanhar os candidatos falando sem a intermediação de recursos externos. Nada de músicas, de atores sorrindo ou cenários idílicos, ”só” os candidatos.
Não dá pra dizer quem “ganhou”, mas é possível identificar que alguém perdeu. Como sempre ocorre nesses eventos, existe uma natural avaliação da performance dos participantes. A apreciação sobre o desempenho de cada um varia em função de inúmeras variáveis que vão desde a roupa que o candidato ou candidata usaram, passando pela gesticulação e tom de voz, até ao conteúdo expresso em suas falas. É comum que eleitores que simpatizam com um determinado candidato entendam que o seu preferido levou a melhor na discussão. Mas pra isso é preciso que o candidato participe.
Um erro grosseiro, uma fala mal colocada, um silêncio constrangedor, um destempero eventual, podem causar danos graves a uma candidatura e mesmo comprometê-la. Assim, candidatos e assessores costumam a se dar por satisfeitos por “não perderem” uma disputa dessa natureza. Antes de procurar brilhar, a ordem é não errar.
No debate da Jangadeiro, foi possível reconhecer as estratégias utilizadas pelos debatedores. Nesse sentido, a ausência deliberada do candidato à reeleição, Cid Gomes (PSB), foi fundamental para que os demais participantes organizassem suas explanações.
Lúcio Alcântara
O ex-governador Lúcio Alcântara (PR) foi o mais incisivo nas críticas feitas à atual gestão. Desfilou números sobre segurança, falou sobre o que considera erros gerenciais, fez menção a escândalos na imprensa envolvendo o governador e comparou sua administração com a de Cid. Experiente, Lúcio adotou um tom de voz manso e um semblante sereno para atacar o oponente sem parecer rancoroso.
Marcos Cals
Marcos Cals (PSDB) também fez críticas ao governador, especialmente na área de segurança. Foi firme e desenvolto sem perder de vista a preocupação de aproveitar a oportunidade para se apresentar ao eleitorado, uma vez que sua candidatura é recente e seu nome pouco conhecido em relação aos líderes nas pesquisas.
Soraya e Marcelo
Soraya Tupynambá (PSOL) e Marcelo Silva (PV) preferiram fazer críticas mais generalistas ao modelo de desenvolvimento e falaram sobre temas importantes, mas que não causam impacto no público, como a questão climática. Mesmo assim, a dupla fez questão de também lamentar a ausência de Cid Gomes.
Cid Gomes
Bem planejado e dividido, o debate da Jangadeiro deu oportunidades iguais para que os participantes atuassem confrontando ideias e apresentando propostas. Não é possível medir, ainda, como a ausência de Cid Gomes impactou junto aos telespectadores. O fato é que seus oponentes aproveitaram para fustigá-lo, na intenção de reforçar um discurso crítico e construir uma imagem negativa do governador, com o nítido cuidado de não transformá-lo em vítima de ataques injustos.
A candidata do PSOL resumiu bem essa situação, ao dizer que apesar da ausência, Cid esteve “muito presente” no debate. A opção de não comparecer num ambiente diferente da propaganda eleitoral tirou do candidato a reeleição a oportunidade de rebater fatos e números expostos por adversários e que colcam em xeque seu próprio governo.
Wanderley Filho é historiador e editor do Jangadeiro Online
Font: Site da Jangadeiro
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