quarta-feira, 24 de junho de 2009

Bomba: Maísa Vasconcelos explica sua saída da jangadeiro


Essa deveria ser uma certeza para se exercitar cotidianamente. Não é. Somos educados para acreditar na imortalidade da alma, na vida eterna, amém. De maneira equivocada, transferimos essa crença para tudo o mais: desejos, amores, trabalho. E nos apegamos. E sofremos com interrupções, sem nos dar conta de que tudo é… movimento.
Após 16 anos, deixo a TV Jangadeiro e a apresentação do programa Na Boca do Povo. Não é pouco tempo - mais de um terço da minha vida dedicados a fazer algo que sempre me deu satisfação e orgulho. Não foi fácil a tarefa. E, embora tenha consciência da mutabilidade das coisas, não está sendo fácil esse momento de despedidas.
Ao contrário do que foi dito, não tenho projetos. Até esta quarta-feira, 27 de maio, quando fui informada pela direção da emissora do meu desligamento, não tinha outros planos. Recebi minha demissão com serenidade e civilidade, mas isso não significa que não esteja frustrada, assustada e insegura, querendo me isolar e nada dizer. Mesmo assim, tenho necessidade nesse instante de falar sobre coisas boas que me aconteceram durante esse tempo em que estive apresentadora do Boca. Mais que isso, quero dar uma satisfação aos que me acompanharam nessa trajetória e que estão sem saber os motivos da minha saída, muito embora minha versão possa ser carregada de emoção. Corro o risco.
Não vou dizer que foi uma surpresa ter sido demitida. Há uns meses percebi um descompasso entre minhas convicções e os resultados esperados com minha participação. Sem medo de julgamentos, digo que, nesses anos todos, defendi o Na Boca do Povo como uma mãe luta por sua cria. Nem sempre fui bem interpretada. Por vezes tive que calar, recuar. Dei tiros no pé, errei demais, acertei aqui e acolá, mas, acima de tudo, trabalhei com seriedade e coragem, defendendo princípios éticos sempre.
Segundo fui informada, descontente com os números na audiência, a TV Jangadeiro opta por retirar o Na Boca do Povo da sua grade de programas nos próximos dias. Em seu lugar deve ser veiculado um outro produto, de caráter mais popular. Saber da decisão pelo fim do programa é tristeza em dobro para mim. Preferia ouvir que não me encaixo, que não tenho o perfil de apresentadora para uma proposta mais agressiva rumo ao telespectador das classes C, D e E. Minha vontade não é e nunca foi soberana.
Lembro do 26 de abril de 1993 quando disse o primeiro “Olá!”, ao vivo, ainda pela Band, emissora da qual éramos afiliados. De lá para cá, estive no ar ininterruptamente, de segunda a sexta-feira, com exceção do ano de 2005, quando decidiu-se por não exibir o programa por duas semanas até que estivesse pronta a reformulação de cenários e quadros. Não conheço uma apresentadora de televisão com essa marca, nem sei de um programa na televisão brasileira com essas características e com essa longevidade.
Foram anos de muito aprendizado, de dificuldades e alegrias. A emissora que me acolheu também me permitiu experimentar sem tantos medos de errar. Conheci gente que levarei comigo para sempre. Agradeço a todos pela paciência e compreensão. E aproveito para pensar em um pedido de desculpas amplo e irrestrito. Quero me desculpar por nem sempre ter tido maturidade e capacidade de discernimento. Também peço desculpas pelas vezes que estive vesga, pela falta de percepção do outro. Preciso me desculpar pela pressa, pela falta de sorrisos e abraços. E desculpo a mim mesma pelas vezes em que pude mais e fiz menos. Também me perdôo por não ter aprendido a não querer fazer parte da casa que foi minha. Eu me perdôo pelo vazio que sinto agora.
Por enquanto não tenho nada traçado para o futuro. Sempre fui péssima em network e outras coisinhas que necessitam de um termo em inglês para se dizer. E preciso mesmo de um tempo para processar e vivenciar tudo que se mostra agora. Minhas emoções são só minhas e de mais ninguém. Eu tenho o meu tempo. Não quero guardar fantasmas, que o porão nem cabe mais. Por mais que me assuste a perspectiva de não ter um salário [aqui fala a taurina], de não ter um “sobrenome corporativo”, sei da minha capacidade de recomeçar, de buscar novas oportunidades, de criar meu posto, como bem disse um sujeito que amo e que tem me ensinado a não temer.
O que virá, nem precisa ser do mesmo jeito, tanto melhor que seja tudo diferente. Desejo com força ter competência suficiente para seguir na construção de um novo caminho profissional, novo de verdade, que possa atender aos meus anseios. Quero poder crescer trabalhando no que gosto, mas, sobretudo, preciso me sentir útil, contribuindo para o crescimento dos demais.
Já já estarei pronta para o convite: vamos juntos?


Fonte: Blog da Maísa

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